segunda-feira, 13 de junho de 2011

«Aqui gostamos de ler Almeida Garrett»





Postal alusivo a Almeida Garrett, a partir de ilustração de Roque Gameiro.
Edição fac-similada da Lithografia Nacional do Porto (Colecção «Homenagem a Garrett» da Biblioteca Almeida Garrett)


Estamos muito perto já do término do ano lectivo, mas não deixamos de partilhar semanalmente um texto (mais ou menos) conhecido de Almeida Garrett, lembrado não apenas a diversidade da sua obra, como o sublime dos seus escritos. Assim sucede com este poema, celebrizado já, de Folhas Caídas.


Rosa sem Espinhos

Para todos tens carinhos,
A ninguém mostras rigor!
Que rosa és tu sem espinhos?
Ai, que não te entendo, flor!

Se a borboleta vaidosa
A desdém te vai beijar,
O mais que lhe fazes, rosa,
É sorrir e é corar.

E quando a sonsa da abelha,
Tão modesta em seu zumbir,
Te diz: «Ó rosa vermelha,
Bem me podes acudir:

Deixa do cálix divino
Uma gota só libar...
Deixa, é néctar peregrino,
Mel que eu não sei fabricar ...»

Tu de lástima rendida,
De maldita compaixão,
Tu à súplica atrevida
Sabes tu dizer que não?

Tanta lástima e carinhos,
Tanto dó, nenhum rigor!
És rosa e não tens espinhos!
Ai!, que não te entendo, flor.

Almeida Garrett, Folhas Caídas (Porto Editora)