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Postal alusivo ao poema «Camões», a partir de edição fac-similada da Lithografia Nacional do Porto.
(Colecção «Homenagem a Garrett» da Biblioteca Almeida Garrett)
Temos vindo a divulgar, semanalmente, alguns dos textos mais emblemáticos de Almeida Garrett, escritor que nos merece uma atenção redobrada pelo facto de ter produzido uma obra vasta, complexa, moderna e multifacetada: deixou-nos poemas, romances, novelas, dramas (teatro), discursos políticos, discursos académicos e ensaios, para não falarmos das suas crónicas jornalísticas.
(Colecção «Homenagem a Garrett» da Biblioteca Almeida Garrett)
Temos vindo a divulgar, semanalmente, alguns dos textos mais emblemáticos de Almeida Garrett, escritor que nos merece uma atenção redobrada pelo facto de ter produzido uma obra vasta, complexa, moderna e multifacetada: deixou-nos poemas, romances, novelas, dramas (teatro), discursos políticos, discursos académicos e ensaios, para não falarmos das suas crónicas jornalísticas.
Na História da Literatura Portuguesa, Garrett ficou associado ao Romantismo, movimento estético e literário originário da Alemanha e Inglaterra, que apregoava o abandono dos modelos greco-latinos (clássicos, portanto) e a valorização das raízes populares e medievais de cada povo.
No nosso País, costuma apontar-se a data de 1825 como aquela em que pela primeira vez este movimento estético se evidenciou, isto com a publicação do poema «Camões». Nele, Garrett presta a sua homenagem ao autor de «Os Lusíadas», cantando a sua vida e obra em verso. A linguagem utilizada parece-nos, hoje, árida e muito erudita, mas mantêm-se vivas as imagens utilizadas, bem como os símbolos românticos: a solidão do poeta, a luta contra o “todo” social, o desejo de evasão e a defesa da liberdade, por exemplo.
Publica-se um excerto deste importante poema, para que todos possamos apreciar a eloquência de Almeida Garrett e a profundidade das suas palavras, cantando o desaire da vida de Luís de Camões, abatido pelas circunstâncias da vida e entrando no domínio da morte e do esquecimento.
Canto II – XI
Foi sonho quanto viu! visão fantástica
Toda a funérea pompa, o canto, o féretro
E essa fatal grinalda! …Ei-la, na destra
Segura ainda a tem! — Escuta: uns ecos
Soterrâneos — como hinos de finados
Por noute aziaga em cemitérios, se ouvem.
Inclino atento a orelha: um passo avante…
Tropeça… Em quê? Numa revolta loisa.
Aberta está a porta aberta do sepulcro.
Um ténue bruxulear de luz descobre
Na profundez do abismo: os degraus últimos
Da húmida escada vê: descerá? — Desce:
Na estância entrou das gerações extintas.
Almeida Garrett, Camões (Porto Editora)