segunda-feira, 27 de setembro de 2010

«Escritores da República»




Imagem

Falam Pocilgas de Operários

Crianças rotas, sem abrigo...
A enxerga é pobre e a roupa é leve...
Quarto sem luz, mesa sem trigo...
Quem é que bate ao meu postigo?
- A Neve!

A usura rouba a luz e o ar
E o negro pão que a gente come...
Inverno vil... Parou o tear...
Quem vem sentar-se no meu lar?
- A Fome!

Lume apagado e o berço em pranto
Na terra húmida, Senhor!
A mãe sem leite... e o pai a um canto...
Quem vem além, torva de espanto?
- A Dor!

Álcool! Veneno que conforta,
Monstro satânico e sublime!...
Beber! beber... e a mágoa é morta!...
Quem é que espreita à nossa porta?
- O Crime!

Doze anos já, e seminua!
A mãe, que é dela?... O pai no ofício...
Corpo em botão d´aurora e lua!...
Quem canta além naquela rua?
- O Vício!

A fome e o frio, a dor e a usura,
O vício e o crime... ignóbil sorte!
Ó vida negra! Ó vida dura!...
Deus! quem consola a Desventura?
- A Morte!

Guerra Junqueiro, poema retirado do livro Finis Patriae (1890)