terça-feira, 29 de junho de 2010

Poema da Semana



I
À noite, os animais que tinham ido
beber o brilho que lhe vem da noite,
paravam a cheirar. E a ouvir o ruído
crescer do sítio de onde corria a fonte.
À noite os animais eram antigos.
E, à volta deles, tudo o mais que fosse
assentava na sombra. E estendia um sítio
onde o tempo crescia para longe.

II
A luz dos animais sobe da negra
solidão que os estrutura.
E os constrange à tristeza
dessa escuridão primordial que os funda.
A luz dos animais sobe. Segrega
o conciso halo de enxúndia
com que a lavração da gleba
percorre os membros da corpulência nua.
E a luz dos animais pára. Os assenta
dentro da exterioridade pura
de os vermos sós. Na certeza
do peso ruminante da estatura.

Fernando Echevarría, Figuras (Edição de Autor)