
Outrora Dezembro
Inventamos Dezembro no aconchego dos mortos
revolvendo uma brasa viva de memória;
a brasa queima as raízes do passado:
belos coletes e fartos bigodes cerzidos
na galeria rutila das cinzas.
Um aroma de musgo entranha-se nas pedras,
as lápides tumulares do nosso sonho.
E assim este Dezembro vai crescendo
Em espiral de neve incandescente.
Minha avó tricotando a santidade,
meu avô flauteando estrofes de bronquite
e um brinquedo mágico desfeito
em sádica autópsia, já longe,
quando um trovão rolava entre os meus braços
as fonéticas iras do Senhor. Então orava;
juntava os pecados todos numa lágrima
e jurava.
Jurava ao pé do lume estarrecido.
Eriçado Dezembro fustigava os tectos,
uma pinha benta ardia sob os olhos
pávidos, a espuma do céu caindo aos urros
sobre a fé intimidada dos adultos.
E assim recebi o ósculo do medo
dos lúgubres vendavais. Era Dezembro,
havia manchas de sombra em cada rosto.
Cláudio Lima, Outrora Dezembro (2007)
Inventamos Dezembro no aconchego dos mortos
revolvendo uma brasa viva de memória;
a brasa queima as raízes do passado:
belos coletes e fartos bigodes cerzidos
na galeria rutila das cinzas.
Um aroma de musgo entranha-se nas pedras,
as lápides tumulares do nosso sonho.
E assim este Dezembro vai crescendo
Em espiral de neve incandescente.
Minha avó tricotando a santidade,
meu avô flauteando estrofes de bronquite
e um brinquedo mágico desfeito
em sádica autópsia, já longe,
quando um trovão rolava entre os meus braços
as fonéticas iras do Senhor. Então orava;
juntava os pecados todos numa lágrima
e jurava.
Jurava ao pé do lume estarrecido.
Eriçado Dezembro fustigava os tectos,
uma pinha benta ardia sob os olhos
pávidos, a espuma do céu caindo aos urros
sobre a fé intimidada dos adultos.
E assim recebi o ósculo do medo
dos lúgubres vendavais. Era Dezembro,
havia manchas de sombra em cada rosto.
Cláudio Lima, Outrora Dezembro (2007)