segunda-feira, 9 de maio de 2011

«O Meu Livro de Cabeceira»





















O título que escolhi, no âmbito do projecto «O Meu Livro de Cabeceira», foi Os Despautérios do Padre Libório, um conto humorístico da autoria de António Manuel Couto Viana (poeta, dramaturgo, ensaísta, memorialista e autor de livros para crianças que nasceu em 1923, em Viana do Castelo). Foi publicado em 2008, pela Opera Omnia.

Este conto diz-nos como é a vida de um padre, não um padre normal mas um pouco maluco. Este sacerdote, chamado Libório, diz e faz muitos disparates, tal como dar alcunhas algo embaraçosas para as pessoas em questão. Padre Libório lá no fundo tem um bom coração, mas o que lhe sai pela boca não é bem visto por alguns fiéis, nomeadamente o sacristão e a organista. Estes tinham em comum a língua viperina, capaz de lançar para o inferno a alma mais pura.

Vejamos alguns exemplos que mostram tudo o que foi dito anteriormente: “O padre Libório, um santo varão, modesto e ingénuo, era conhecido em toda a cidadezinha pelos tremendos despautérios que dizia e fazia durante o exercício das suas actividades sacerdotais.

Atribuíam-lhe, até, aquele caso em que, inadvertidamente, havia quebrado um segredo de confissão perante uma fila de fiéis, aguardando vez frente ao seu confessionário.

“Ajoelhara-se diante das grades uma pobre velhota que trabalhava a dias numa casa fidalga da cidadezinha. Padre Libório, cansado de haver velado toda a noite à cabeceira de um moribundo, deixara-se adormecer embalado pela lengalenga bichanada da pecadora. Ela, ao ouvi-lo ressonar, abandonou o confessionário mesmo antes da penitência.

Súbito, padre Libório acorda com um ronco mais forte e, dando pela ausência da confessada, deita a cabeça de fora da cortina roxa e pergunta em voz alta aos fieis aparvalhados: - onde esta a velha que roubou uma panela?”


Porque ler este livro? Foi-me, e muito bem, recomendado pelo meu professor. É um livro com passagens muito divertidas. Toda a família, desde os mais pequenos aos mais velhos, o podem ler que não se arrependerão.

A linguagem desta obra é uma das suas virtudes. É bastante acessível, até porque Couto Viana se expressa em termos muito próximos dos usados pela gente de hoje. O registo de língua varia entre o corrente, a gíria e o calão.

Esta linguagem é muito simples como se pode ver nos seguintes exemplos:

“Num inverno mais chuvoso e frio, D. Clemência correra para a missa d’alva sem cuidar da toilette, embrulhada num xaile húmido a cheirar intensa e desagradavelmente a cão molhado.

Ao abrir o organeto, já com uma numerosa assembleia, viu o padre Libório, paramentado de vermelho (celebrava-se um mártir da igreja), quedar-se junto ao altar, ter uma fungadela mais forte e exclamar, encarando-a, assim como ao restante mulheredo embiocado: - As senhoras é favor virem lavadas para a missa.”

A qualidade da obra de António Manuel Couto Viana não merece quaisquer dúvidas, o que se comprova pelo número de leitores que tem (a começar por mim).

Sílvia Maria Ribeiro Teixeira (nº 18, 9º C)