Regressamos no início desta semana à poesia de Almeida Garrett, mais concretamente a Flores Sem Fruto, volume de 1845, onde o autor colige um conjunto de composições marcadas pelo exacerbamento romântico do eu poético e do amor, bem como pela expressão do desengano existencialista.
A Lira
(De Anacreonte)
De gosto cantara Atridas,
E a Cadmo erguera louvor;
Porém as cordas da lira
Só sabem dizer amor.
Há pouco, mudando-a toda,
Novas cordas lhe assentava.
E de Alcides os trabalhos
A cantar principiava.
Mas, contra as minhas tenções,
Em vez de marciais furores,
De teimosa e como a acinte,
Sempre vai soando a amores.
Adeus, heróis! Adeus, glória!
Adeus, guerreiro furor!
As cordas da minha lira
Só sabem dizer amor.
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Almeida Garrett, Flores Sem Fruto (1845)
(Com actualização linguística do original, na Biblioteca Nacional Digital)