aula de poesia
para a Emília Pinho
amo a poesia
o orvalho branco que nos pede o olhar
amo o eco das folhas e o caderno
a profundidade penetrante da casa
amo os inteiros ângulos da sintaxe
o odor das coisas
a caruma verde baloiçando nas minhas mãos
não sendo das minhas mãos
porque a poesia tudo esconde, inscreve
e apazigua
chamemos-lhe pele, pedra, placenta
ou então água, casa
mulher
nela todas as palavras cabem melhor
quer dizer, mais devagar
João Ricardo Lopes

poetry lesson
for Emília Pinho
I love poetry
the white dew that bids our gaze
I love the echo of the pages and the notebook
the penetrating depth of the house
I love the complete angle of the syntax
the smell of things
the green pine needles swaying on my hands
not belonging to my hands
because poetry all hides, inscribes
and calms
call it skin, stone, placenta
and even water, shelter
woman
in it all the words fit better
I mean, more slowly
(Tradução de Bernarda Esteves)

cours de poésie
à Emília Pinho
j’aime la poésie
la rosée blanche qui nous demande notre regard
j’aime l’écho des feuilles et j’aime le cahier
la profondeur pénétrante de la maison
j’aime les angles intégraux de la syntaxe
l’odeur des choses
les aiguilles de pin vertes en se balançant dans mes mains
sans leurs appartenir
puisque la poésie cache et inscrit tout
et pacifie
désignons-la de peau, pierre, placenta
ou bien eau, maison
femme
tous les mots y habitent mieux
c’est à dire, plus doucement
(Tradução de Dália Maio)