segunda-feira, 21 de março de 2011

Um poema muito especial




aula de poesia

para a Emília Pinho


amo a poesia
o orvalho branco que nos pede o olhar

amo o eco das folhas e o caderno
a profundidade penetrante da casa

amo os inteiros ângulos da sintaxe
o odor das coisas
a caruma verde baloiçando nas minhas mãos
não sendo das minhas mãos

porque a poesia tudo esconde, inscreve
e apazigua

chamemos-lhe pele, pedra, placenta
ou então água, casa
mulher

nela todas as palavras cabem melhor
quer dizer, mais devagar

João Ricardo Lopes





poetry lesson

for Emília Pinho

I love poetry
the white dew that bids our gaze

I love the echo of the pages and the notebook
the penetrating depth of the house

I love the complete angle of the syntax
the smell of things
the green pine needles swaying on my hands
not belonging to my hands

because poetry all hides, inscribes
and calms

call it skin, stone, placenta
and even water, shelter
woman

in it all the words fit better
I mean, more slowly

(Tradução de Bernarda Esteves)





cours de poésie

à Emília Pinho


j’aime la poésie
la rosée blanche qui nous demande notre regard

j’aime l’écho des feuilles et j’aime le cahier
la profondeur pénétrante de la maison

j’aime les angles intégraux de la syntaxe
l’odeur des choses
les aiguilles de pin vertes en se balançant dans mes mains
sans leurs appartenir

puisque la poésie cache et inscrit tout
et pacifie

désignons-la de peau, pierre, placenta
ou bien eau, maison
femme

tous les mots y habitent mieux
c’est à dire, plus doucement

(Tradução de Dália Maio)