segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

«O Meu Livro de Cabeceira»



O livro que eu escolhi foi «Os Olhos de Ana Marta», de Alice Vieira, um romance infanto-juvenil, publicado em 2000 pela Editorial Caminho. Alice Vieira é uma escritora e jornalista portuguesa. Dedicou-se desde cedo ao jornalismo trabalhando nos jornais “Diário de Lisboa”, “Diário de Notícias” e “Jornal de Notícias”.

O tema que a autora aborda no livro “Os Olhos de Ana Marta” é comum no nosso dia-a-dia, a relação entre pais e filhos, por vezes boa e por vezes má, mas neste caso a relação entre Marta e seus pais é má.

O livro fala-nos de uma menina chamada Marta que tem uma má relação com a sua mãe, Flávia, a autora demonstra isso com muita clareza logo no início do livro, “Trocaram-me de mãe no hospital. (…) Mandaram embora, de mãos a abanar, a que entrara na certeza de sair com um recém-nascido nos braços, e entregaram-me à que chegara naquela tarde de chuva à procura de remédio contra as dores de cabeça e contra o medo de enlouquecer.”

A rapariga tinha um gosto enorme pela sua empregada. Leonor, assim se chamava ela, contava muitas histórias e cantigas à menina, tudo o que herdara da sua família e toda a história da sua vida era transmitida a Ana Marta em forma de contos, de uma forma anónima digamos antes assim. Leonor contava muitas histórias do “Touro Sentado”, falava muitas vezes da “Grande Fatalidade” e da “Outra Pessoa”.

Na leitura deste livro, o que me provocou mais curiosidade foi saber quem era o “Touro Sentado” e quem era “Ana Marta”, foi por isso que eu gostei deste livro, pela maneira de como a autora consegue provocar tanta curiosidade aos leitores.

Há, também, umas espanholas que são amigas de Flávia, mas Marta e Leonor não gostam delas.
“Chegavam sempre a meio das tardes de sexta-feira. (…) Eu deixava-me ficar junto de Leonor, enquanto as ouvia atravessar o corredor enorme e enfiarem-se pela Sala de Visitas. Flávia dizia sempre que a Sala de Visitas não era lugar para crianças, e que eu só lá devia entrar quando me chamassem.”

A casa de Ana Marta era enorme e tinha muitos quartos, só que metade desses quartos estavam fechados havia bastantes anos (e só eram abertos quando Leonor os limpava, o que acontecia muito raramente, até porque Leonor envelhecia cada vez mais). Esses quartos pertenciam às pessoas que já tinham partido.

“A Outra-Pessoa pertencia a estes segredos. A ninguém eu devia falar dela, avisara Leonor. (…) Só muito tarde veio o resto da história – e mesmo assim em brevíssima referência, e com muitas juras e muito arrependimento por ter falado mais do que devia.”

Leonor contou a Marta o que tinha acontecido com a Outra-Pessoa, mesmo sem Marta saber quem era essa pessoa. É neste momento, neste andamento da história, que não consigo largar o livro até o acabar de ler, o suspense é tanto, a vontade de decifrar e de matar a curiosidade é tanta que me questiono:

“Mas quem será Ana Marta? Quem será a Outra pessoa? Quem será Touro Sentado?”

Foram estas três perguntas para as quais eu tentava obter uma resposta ao longo da leitura do livro. Até que descobri quem era Touro Sentado e descobri também quem era Ana Marta e quem era a Outra-Pessoa.

Afinal Ana Marta e a Outra-Pessoa eram a mesma pessoa, e foi através de Leonor que Marta descobriu tudo. Assim, chegamos ao final:

“O quarto está silencioso. (…) – Desculpa não vir de verde, mas os vestidos verdes já não me servem. A Leonor diz que estou uma mulher. – A Leonor diz tanta coisa…- murmura Flávia. E, de repente, começa a falar, como se naquela altura um estranho filme se desenrolasse na sua frente e ela fosse a única a poder vê-lo: - Estavas tão fria… Que fria que tu estavas… E as pessoas chegavam e olhavam para ti e não percebiam nada, não acreditavam, não podia ser, estavas tão queimada da praia, tão cheia de vida, quem ia acreditar? Só eu sabia como tu estavas fria, como tu estavas gelada…

-Flávia… - murmuro a medo. - …como nem sequer as minhas mão te podiam aquecer, e as pessoas olhavam e vinham ter comigo, e diziam que sabiam muito bem o que eu estava a sentir…

-Flávia… -… que sabiam muito bem, mas que eu tinha de me conformar, que não havia nada a fazer… - Flávia sou eu que estou aqui! -… as pessoas não podiam saber nada, não podiam sentir nada, só eu sentia o gelo que havia em ti… - Flávia, eu não sou Ana Marta! -… por isso todas as mantas serão para ti, para quebrarem o teu frio, para derreterem o teu gelo… - Flávia, por muitos vestidos verdes que me vistam, por muito Francês que me façam aprender, eu não sou Ana Marta!”

Assim foi a conversa entre mãe e filha, a conversa que fez com que Flávia enterrasse a morte de Ana Marta e que fez Flávia chamar pela primeira vez o nome da sua filha:
“-Marta… (…) -Chamas-te Marta – diz, lentamente, como se soletrasse uma frase difícil. (…) – Acho que o estilhaço já saiu do meu coração.”

Gostei muito de ler o livro e espero poder continuar a ler obras como esta de Alice Vieira. Recomendo este títulos a todos os adolescentes, assegurando-lhes que não é um livro complicado, tem um vocabulário muito acessível e é incrível a sensação que produz de, cada vez que viramos uma página, sentirmos mais vontade e mais curiosidade de chegarmos ao fim!

Tatiana Parente (nº 20, 9º C)