quarta-feira, 3 de novembro de 2010

«Aqui gostamos de ler Almeida Garrett»





Vamos iniciar aqui um projecto novo: dar a conhecer ou simplesmente recordar alguns dos textos mais emblemáticos desse grande poeta, dramaturgo, romancista, político, recolector de literatura popular, que foi João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett.

Começamos com um poema célebre, retirado do livro «Folhas Caídas», um dos últimos do autor.

Este Inferno de Amar

Este inferno de amar - como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n' alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

Almeida Garrett, Folhas Caídas (1853)