terça-feira, 23 de março de 2010

«O Meu Livro de Cabeceira»



O livro que escolhi para este período chama-se «Uma criança chamada coisa», o autor é Dave Pelzer, tem 103 páginas e foi editado em 1995. Trata-se de uma autobiografia.

É uma história dramática sobre uma criança que tinha uma vida maravilhosa e feliz ao lado dos seus pais, que o amavam e ele a eles (“Os meus dois irmãos e eu éramos favorecidos por termos os pais perfeitos”), no entanto, a vida desta pobre criança muda drasticamente pois a sua mãe começa a pouco e pouco a molestá-lo fisicamente e intelectualmente (“A minha relação com a mamã mudou, drasticamente, da disciplina para o castigo desenfreado”).

Começou por fazê-lo na ausência do pai e dos irmãos perto, batendo-lhe, dando-lhe pontapés e não lhe dando de comer, o que o obrigava a tentar arranjar comida de qualquer forma. Começou então a roubá-la nas lancheiras dos colegas e numa mercearia perto da escola, até que a mãe descobriu e espancou-o, deixando-o estendido no chão. A mãe, entretanto, torna-o seu escravo: ele faz a lida da casa, lava e seca a louça, limpa o chão da casa de banho de joelhos, até que os castigos, que até então eram “atrás das costas” de todos, passam a ser à frente de toda a família. A sua roupa é mesmo rasgada e indigna toda a gente.

O menino passou a dormir na cave onde havia um beliche de exército, sem qualquer lençol ou cobertor. Após fazer as suas tarefas, aguardava de pé na cave, não se podia sentar nem deitar, pois se o fizesse a mãe punia-o por isso.

O monstro em que a sua mãe se tornou revoltava-o, toda a situação que vivia o torturava, no entanto mesmo quando a mãe lhe partiu o braço ele mentiu ao médico do hospital, dizendo que ele tinha caído. E nem mesmo quando a mãe lhe deu uma facada no estômago, esta criança parou de sonhar, pensando sempre que um dia o seu pai o salvaria desta situação tortuosa.

A mãe tinha-se entregado ao álcool e andava sempre de roupão e a discutir. As coisas começaram a ser feitas à frente do pai: ele fora proibido de falar com Dave e isso entristecia-o muito. Com o passar do tempo o pai fartou-se da vida que levava e saiu de casa, deixando os filhos entregues à mãe e foi precisamente nessa altura que a vida de Dave passou a ser péssima.

Dave deixou de acreditar em Deus, culpando-o das coisas que lhe aconteciam, pois a seus olhos se ele existisse não deixaria uma criança sofrer assim. Desejou muitas vezes a morte, até que ao fim de muitos anos chamou a atenção de uma enfermeira na escola, que falou com ele e a pouco e pouco passou a inteirar-se de tudo, devido às marcas que tinha no corpo.

Certo dia, depois de ser espancado, foi para a escola e a polícia interveio, pois já sabia do caso. Foi então levado para uma instituição e ficou livre da vida miserável que tinha. Hoje é um homem feliz, que ama o seu filho e é amado por ele. Agradece a Deus por estar vivo e aprecia tudo em seu redor, porque a vida lhe mostrou o quanto isso é importante.

É um livro que nos mostra uma realidade diferente e que não é muito falada. Mas a verdade é que os maus tratos a crianças existem. É um livro muito violento e não o recomendo a pessoas sensíveis. No entanto, vale a pena ser lido para se ter a noção do que o ser humano é capaz de fazer e para darmos valor à nossa vida, que não é perfeita, mas com a certeza de que há sempre pessoas com uma vida muito pior do que a nossa.

Não mencionei muitos castigos, porque me revolta pensar neles e custa-me falar de muitas atitudes que me magoaram e que me sensibilizaram como ser humano. Foi um livro que me chocou, até chorei a lê-lo e “vivi” cada palavra, cada sentimento dito por Dave Pelzer, autor do livro e personagem principal nesta história verídica que relata a sua infância desde os 4 até aos 12 anos descrevendo ao pormenor todos os maus tratos que recebia da mãe.

Questiono-me: como é possível alguém tratar um filho, que é sangue do mesmo sangue assim?

Esta criança que foi uma “coisa” para a sua mãe e que foi considerado o terceiro pior caso de maus tratos a crianças na Califórnia, hoje é feliz e amado e é reconhecido como um dos comunicadores mais eficientes dos Estados Unidos. Valeu a pena sonhar e manter-se vivo.

É uma história dramática onde o amor e a felicidade reinam depois de tanto sofrimento.

Sara Machado (nº16, 9º A)