quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A literatura dos nossos alunos



“Sofru…quê?! Sofrutívaro!”

E de repente, dou por mim sentado no colo do meu dono, a puxar-me a cauda, depois de me ter acordado… que raiva… rsss, ele era tão querido, se estivesse quieto… Mas já que me acordaste, Gonçalo, deixa-me ver o que estão a fazer.

— Então, Daniela, estava a ver que não vinhas; estavas tão contente ao telemóvel!

— Sim, sim, Andreia, sempre com pressa. Mas sim, tenho aqui umas coisas que vocês vão adorar!

— Ai, sim? Tu não tinhas dito para virmos aqui à baixa tomar um cafeite e combinarmos as nossas férias?

— É sobre isso de que este panfleto fala!

Hum… Será que vem aí coisa boa? Não me está a parecer… Quando vejo esta rapariguinha, os meus bigodes emergem no ar, quase que voo!

— Uau, brutal, espectacular, incrível!

— Que foi, Bruno?

— Andreia, temos de ir ao Pailindo…

— Hum… Deixa-me ver esse papel.

— Sim, sim, sim!

— Então já podem acabar com os segredinhos? O que é esse Pailindo?

— Daniela, explica-lhe!

Esta Andreia passa a vida a mandar!

— É assim, Gonçalo, o Pailindo é um país que está com uma promoção excelente, vamos num avião particular para cinco pessoas e tu até podes levar o gabarão do Gapersa.

É por estas e por outras que eu tenho amódio por esta Daniela. Está quieta, não, larga-me, não faças isso!

— Anda cá, gatinho lindo, és tão fofo!

A Andreia passa-se de vez em quando! Olha, olha tu não me faças isso, senão dou-te uma rabosada (explico: dou-te com o rabo)!

— Sim, realmente é uma boa ideia! – disse o meu dono gorducho.

Pronto, estou mesmo a ver que vamos para esse Pailindo! Desde que lá haja percaposta, eu vou!

— Andreia, Gonçalo e Bruno, vamos para a próxima semana?

— Sim, por nós pode ser.

Eiii!!! E eu??? Não querem saber se eu posso ou não? Que desgraça, aonde este mundo vai parar sem as minhas opiniões? Bem, não interessou muito o que eu tinha a dizer, pois uma semana depois lá estávamos nós os cinco no aeroporto.

— Isto é brutal!!!

— O quê, Gonçalo? Não digas que já andas outra vez a “galar” as miúdas…

— Oh Andreia, não é nada disso; o nosso avião é o 333 e está mesmo à nossa frente!

— Ah… que grande! Nunca tinha visto um avião de papel tão grande, na minha vida! Mas espera lá, tu disseste 333?

— Sim, não é fantástico? Vão ser as melhores férias de sempre!

— Não é nada fantástico!!! Que medo!!!

Gonçalo, seu gordo oportunista e desmisericordioso, não me puxes, eu não vou entrar nessa coisa! É que nem penses. Eu… custa dizer isto! Mas eu concordo com a que tem a mania dos miminhos…

— Vá, bora lá, pessoal?

— Ai, Daniela, estás com a “pica” toda, eu tenho medo. E se aquilo não aguenta connosco?
— Claro que aguenta, Andreia!

— Achavas que a Daniela nos trazia para aqui se não fosse seguro?

— Claro, tens toda a razão, Bruno.

Ahhh, que sono tão bom!!! Ahhhh!

— Oh não! Começou a chover…

— Socorro…

PUM!

— Ai!

— Ai!

— Ai!

— Ai! Ai que dores!

— Podes crer, Bruno!

— Ah? Que foi, Gonçalo?

— Tu não disseste: “Ai que dores?”

— Eu não!

— Fogo, pá! Eu disse que concordava com a Andreia e que não queria vir!

— Ui! Não pode ser! És tu, Gapersa?

Sim, claro que sou, não me estás a ver?

— Eu devo estar a sonhar! Eu estou a falar com um gato!

— Não estás a sonhar, eu também o ouvi!

— Ai Bruno, nunca ninguém te diz, mas ficas tão feio quando fazes essa cara de parvo!

— Onde é que eu estou?

— Ah, Daniela, acordaste! A Andreia?

— Não sei!

— Tou aqui! Venham para aqui que não nos molhamos!

— Olá! Ai de ti que me faças mimos, até te mato!

— O quê, tu falas?!

— Não, sua burra! Não me estás a ouvir? É claro que falo! Sim e estamos com esta treta toda, já chegamos ao Pailindo?

Foi aí que, finalmente, todos se aperceberam de que tínhamos caído e que estávamos no meio da floresta. Fomos andando pelo meio das árvores quando nos deparámos com um incrivelmente assustador castelo, com um portão muito grande.

— Mas o que é isto?

— Não tenho bem a certeza, mas que é assustador lá isso é, Daniela! – respondeu-lhe a Andreia com uma mistura de medo e de curiosidade!

O portão era realmente assustador, para não falara da Lua, que parecia vigiar-nos e dos morcegos com asas de 2 metros, que pairavam à volta do castelo. O meu dono decidiu entrar.

— Bem, pessoal ou ficamos aqui cheios de frio, ou entramos e vemos de há alguma coisa que se coma. Já ‘tou que nem posso, com uma fome que abrange o mundo.

— Está bem!

Todos aceitaram e lá fomos nós, por cima daquela ponde de traves, por onde conseguíamos ver a água preta donde saía aquele fumo nauseabundo.

Na porta estava assim: “Proibida a entrada de animais que comam sofruta e percaposta”.

— Desculpem lá, mas eu entro na mesma, não quero saber, se há percaposta, eu entro!

— Sim, Gapersa. Com tanto mistério também quero entrar!

O meu amódio pela Daniela começava a ficar mais pequeno. Ai! Gapersa, deixa-te desses pensamentos parvos.

— Entramos ou não? Eu quero percaposta! Eu quero percaposta, eu quero…

— Já vamos entrar! Agora cala-te e não faças barulho, estás a ouvir, seu gavarão?

— Está bem, Andreia!...

— Abre a porta, Gonçalo.

— Olha, abre tu!

— Anda lá, abre!

— Não!

— Parem lá com isso! Andreia podes abrir tu.

— Já disse que não!

— Então abro eu. – manifestou-se o Bruno, cheio de vontade!

— Olá! Podemos entrar?

Ninguém respondeu.

— Vá, ó meu dono “magnifico”, fala o teu inglês “maravilhoso”, a ver se eles entendem.

— ‘Tás-me a dar graxa!

— Oh! Anda lá!

Hello! May us come in? Has anybody home?

— Ca Burro! Gonçalo, não sabes falar inglês? É: “May we come in? Is anybody home?”

— Oh, Bruno!

Outra vez sem resposta.

— Vamos entrar na mesma, people?

— Sim, bora lá!

— Ui, que medo, aquele esqueleto está a olhar para mim…

— Calma, Gapersa, não é preciso saltares para cima de mim!

— Gonçalo, ele tem razão, ele está a seguir-nos com o olhar!

— É melhor fugirmos…

— Sim, Daniela!!!

Fomos parar à cozinha.

— Olá!!!... Foram vocês que…

— Ahhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!

— Calma, eu não vos queria assustar. Eu sou o Catrapasso Vampiresco, dono deste castelo. Pois, vocês estão no MEU castelo!

— Des…des…desculpe senhor!

— Quem és tu?

— Eu sou o Gonçalo, e este é o meu gato Gapersa, o meu melhor amigo, Bruno, e estas são duas amigas minhas, a Andreia e a Daniela. São as melhores amigas!

— Muito bem! E estão aqui a fazer o quê?

— Nós… Nós caímos aqui, na floresta aqui ao lado.

— E como é que subiram até aqui?

— O quê? Nós não subimos nada! Foi assim: nós vínhamos no nosso avião de papel; íamos passar as férias a Pailindo; só que começou a chover e o avião de papel desfez-se!

— Ah! Agora entendo! Então vocês não sabem?

— Não sabemos o quê?

— Venham cá!

— Eu não vou, Gonçalo!

— O quê? Não te consigo ouvir, fala mais alto!

— Chiu! Ouve! Ele é um vampiro!

— Oh, ele está a ser nosso amigo!

— É…É… Sabes lá, para onde é que ele nos vai levar!

— Anda lá, ele é fixe!

— Então, não vêm?

— Sim, estamos a ir.

— Vocês não sabem onde estão!

— O quê???? – espantaram-se todos.

— Olhem aqui para dentro, quando eu abrir este alçapão!
— Nem acredito que estou a sentir o vento nos meus bigodes…

— Sr. Catrapasso Vampiresco, aquilo ali são as nuvens?

— Sim, Andreia.

— Eu sou a Daniela.

— Oh, desculpa!
— Então, nós estamos num castelo incrivelmente assustador, com um vampiro e ainda por cima, num castelo que fica nas nuvens!

— Sim, Andreia! Acertei?

— Sim.

— Esta está sempre com medo! Oh vai-me à venda!

— Querida, não tenhas medo! Vamos almoçar?

— Há percaposta?

— Gapersa, há tudo o que tu quiseres!

— Obrigada pelo convite, mas eu vou-me embora. Daniela vens comigo?

— Sim, vamos comer qualquer coisa lá fora!

— Oh, eu pensei que vocês iam querer provar um pouco da minha salada de sofruta, visto que não há aqui mais nada, para além do castelo…

— Salada de sofruta?

— Sim, Bruno. É a minha especialidade! Como sou sofrutívaro

— “Sofru”, quê?

Sofrutívaro!

— Ah, que interessante, eu sempre achei que fosses vampiro! És tal e qual como eles!

— E sou, Gapersa gavarão! Mas sofrutívaro.

— “Sofru”… quê?

Sofrutívaro!

— Ah, sofru!...

Sofrutívaro, Bruno!

— Bem, sofrutívaro quer dizer que eu só como fruta! Apesar de às vezes ir pescar umas percapostas por passatempo. Mas não as como!

Sofrusofrutí

Sofrutívaro! Está difícil, hem?

O meu dono estava a passar-se… Não é difícil!

— Vamos comer?

— Claro, Estou cá com uma fome, Sr. Vampiresco!
— Que boa salada de sofruta!

***

— Gapersa! Acorda! Eu tenho de ir sair, tenho de ir ter com a Andreia, a Daniela e o Bruno! Acorda, seu gato Gavarão!

Eu estou a comer, não estás a ver?

— Anda Gapersa! Acorda!!!

Onde está a minha sofruta? Miau, Miau, Miau!!!

— Não mies, vem comigo gato gordo e rabugento! Vou-me embora!

Miau!...

Andreia Santos (nº 1, 8º A)