
Era a paragem em que eu tinha de sair.
Pedi um espacinho à mulher gorda e fugi do autocarro. Ia eu a caminho da escola, quando me deparei comigo mesma a pensar no que a mulher me tinha dito.
Como seria a erva que eu tinha no coração? Seria pequena, grande, azul, verde, ou até vermelha? Ou podia não ser uma simples erva. Podia ser uma árvore que em breve ia começar a crescer e ia apoderar-se do meu corpo. E ia crescer tanto que ia ter que furar o meu corpo para poder crescer mais. Ai que desgraça, já via os meus dias contados!
Já estava na escola e continuava a pensar na desgraça que iria ser a minha vida, quando outra coisa chamou a minha atenção: era a rapariga ruiva que eu tanto adorava.
Vinha com a sua camisa nova e a sua saia de pregas. Com aquele cabelo laranja volumoso e meio encaracolado! Estava linda, como sempre!
Passou por mim e eu virei a cara para a parede para ela não ver a minha horrível borbulha. Corri para a casa de banho a ver o horrível monstro que tinha no nariz.
Ouvi nas colunas da escola o Director a chamar os participantes da corrida aos lugares. Corri para o meu e peguei na bicicleta. Ouvi o sinal de partida e comecei a pedalar. Fiquei azul quando reparei que não estava a andar. Ai que vida a minha! A rapariga ruiva ria a bom rir e a mim só me apetecia fugir. E foi o que eu fiz. Fugi na bicicleta, a ver se ainda conseguia alcançar o terceiro lugar.
A corrida terminou com o António em primeiro lugar e comigo em 17º, de maneira que foi ele quem recebeu o prémio das mãos da minha amada.
Fui para casa, desapontado com a minha prestação. Quando me olhei ao espelho pela última vez antes de me deitar, reparei que a borbulha estava ainda mais vermelha e rechonchuda.
Acordei com muita pressa de chegar à escola para dizer à rapariga o que sentia por ela. Saltei da cama, enfiei-me numa roupa à sorte e corri até ao autocarro. Sentei-me e quando chegou a paragem em que eu saía corri até chegar perto da minha adorada.
Olhei-a nos olhos, disse-lhe “olá” e concluí com esta frase:
- Amo-te muito!
Ela corou muito e disse em voz baixinha e com muita delicadeza:
- Não é apropriado que me digas isso! Vou ter de ir, está a soar a campainha!
Vida a minha! Levar uma nega da rapariga mais bonita da sala. Será que ela me disse aquilo por causa da borbulha? Não sabia.
A rapariga que se sentava comigo na carteira declarou que a minha amada andava de olho no António. Fiquei de rastos, escrevi-lhe um poema e mandei-lho em meu nome.
No recreio veio ter comigo e arrastou-me, de mãos dadas, até ao eterno cantinho dos namorados. Deu-me um beijo na bochecha e fugiu. Corei, subi até às nuvens mais brancas. Nessa noite escrevi dez páginas de poemas só para ela. “Andámos de mãos dadas pela escola!”
E a minha erva do coração, essa, está lá, e não! Não é uma árvore!
Mariana Alves, aluna nº 13 da turma 7º D
Texto escrito no seguimento das propostas de escrita criativa, a partir da leitura de «Hipóptimos – Uma História de Amor» de Álvaro Magalhães.