"Vocês, os mais novos, vão encontrar belas coisas para fazer... Nessa altura, se o merecer, lembrem-se de mim."
Alves Redol entrevistado para o Jornal "República",
em 27 de março de 1963
Estas palavras de Alves Redol não nos deixam indiferentes, por isso resolvemos recordá-lo.
Assim, no âmbito da comemoração do centenário do seu nascimento, vamos privilegiar, ao longo deste ano letivo, a leitura das obras de Alves Redol (29/12/1911‒29/11/1969), em parceria com a Biblioteca Almeida Garrett e de acordo com o projeto de animação comum das Bibliotecas Escolares do Porto.
Autor de uma vasta obra ficcional, Alves Redol é considerado a figura central do neorrealismo português. Na sua literatura sobressai uma visão nua e crua da realidade, abordando os temas sociais, a vida quotidiana e tudo o que o rodeia, com uma clara intenção de denunciar e intervir nas injustiças sociais, sobretudo, na questão da opressão e exploração dos trabalhadores rurais e do proletariado.
A este propósito, na epígrafe do seu primeiro romance, Gaibéus, o autor sublinha que o objetivo principal desta sua obra é ser um «documentário humano» e não uma obra de arte, ou seja, pretende que os seus textos figurem, sobretudo, como autênticos documentos de intervenção que reflitam os problemas sociais e contribuam para uma regime social mais justo.
De entre as suas obras destacamos os romances Gaibéus (1939), Fanga (1943) e Barranco de Cegos (1962), o conto Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos (1962) e a peça de teatro Forja (1948). Escreveu ainda os livros infantis Vida Mágica da Sementinha (1956), A Flor vai ver o Mar (1968), A Flor Vai Pescar Num Bote (1968), Uma Flor Chamada Maria (1969) e Maria Flor Abre o Livro das Surpresas (1970).
Terminamos com um breve excerto deste último livro dedicado às crianças, cuja personagem principal, Maria Flor, anseia viajar pelo mundo através do livro que lhe foi oferecido, tal como nós esperamos despertar nos leitores esse alegre desejo de viagem pela obra de Alves Redol.
“Que contente vai Maria Flor! …Tão contente, que o Sol lhe pergunta:
‒ Vais a alguma festa, Flor?
‒ Vou, sim. Vou correr mundo.
‒ No mundo nem tudo é festa, Maria Flor! Toma cautela!...
‒ Que sabes tu do mundo, se moras tão longe?...
E volta costas ao Sol, tanta pressa tem de saber se o Livro que o Chim lhe deu poderá fazer certa maravilha…
‒ Ah, como seria bom! ‒ diz Maria Flor para si.
Apertando ainda mais ao peito o saco com o Livro, segue viagem. Saltita, canta, parece um pássaro cantador.”