segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

«O Meu Livro de Cabeceira»



O livro «Se perguntarem por mim digam que voei» de Alice Vieira é um livro extremamente bem construído, pelo que me será difícil fazer-lhe uma recensão. Tentarei, portanto, ser breve, cumprindo os limites de palavras impostos pelo professor.

Comecemos. «Se perguntarem por mim digam que voei» é um romance com uma trama densa. Há nele um cruzamento de vidas e histórias e dramas que acabam por se encaixar perfeitamente, na medida em que fazem sentido. E sendo assim é um livro bem ao jeito de Alice Vieira.

Este livro conta, por esta mesma ordem, a história de três mulheres perfeitamente distintas: Joana Ofélia, Olinda Dulce e Letícia. E entre o fim de uma história e o começo da outra, acaba ainda por se contar breves passagens do presente. Ou seja, a história de Joana Ofélia é um passado distante, Olinda Dulce é um passado que se estende no presente e Letícia, que nas entrelinhas vai aparecendo nessas passagens, é um presente que se estenderá no futuro.

O livro no início é um pouco confuso, devido à quantidade de personagens que entram nele, mas, ao mesmo tempo é muito cativante. É daqueles livros que quando começamos a ler conseguimos passar horas a lê-lo.

Tudo começa com uma vila (ou aldeia) e duas casas que se avistam e seguem por uma rua que dá para a estrada: a casa de Perpétuo Socorro e a casa dos Três Anjinhos. É nessas duas casas que todo o livro é explorado e se desenvolve em perfeito crescente de profundidade.

Joana Ofélia é a personagem principal e a partir da qual tudo se desenrola. Joana mora na casa do Perpétuo Socorro com as irmãs (Maria da Piedade, Maria da Assunção e Maria das Dores) e com a sua grande amiga (e empregada) Demétria e, desistindo do amor da sua vida, acaba por casar com o filho do dono da casa dos Três Anjinhos (o Major), mudando-se para lá. Aliás, é Joana Ofélia quem dá o nome “Três Anjinhos” à casa. Esta está presente ao longo de todo o livro, isto é, mesmo depois da sua morte. Deu sempre muito que pensar, revelando-se uma personagem bastante carismática e fazendo cada vez mais sentido. Joana Ofélia é sem dúvida a protagonista. Ela acaba por morrer, mas tem um crescimento gradual de sentido, mesmo depois da sua morte. Joana fala muito pouco, é uma personagem que, apesar da sua beleza estonteante e dos seus cabelos ruivos brilhantes, tenta dar pouco nas vistas (note-se que este livro não se passa nos tempos de hoje, não tem um ano definido, mas que se adivinha pela referência à magnífica invenção que foi a televisão).

O acontecimento que acaba por revolucionar todo o livro dá-se quando Joana Ofélia faz dezoito anos e as irmãs lhe oferecem de prenda um retrato. É Pedro Ruiz quem o pinta e este acaba por ser o primeiro e único grande amor de Joana. Mas Pedro nunca consegue acabar o quadro e mesmo ficando fantástico este nunca tem a cor dos olhos de Joana Ofélia.

Do casamento com o Major, Joana acaba por ter seis filhos, três do quais morrem. Joana Ofélia acredita piamente que «Qualquer janela serve para voar» e «Um dia voarei por essa janela». Quem lho ensinou foi Demétria, mas é pela sua boca que estas palavras vão fazer-se sentir gradualmente ao longo do livro.

Olinda Dulce é a segunda paixão do Major. É uma mulher da cidade, cheia de sonhos, que acaba por ir viver para a casa dos Três Anjinhos. Olinda Dulce começa a sua história num “espectáculo”, no qual canta e dança; é lá também que conhece o Major. Por culpa sua e do seu casamento, acaba por abandonar a sua vida anterior e partir para a casa dos Três Anjinhos. Olinda dá à luz Otávio.

Letícia é... bem, para não querer levantar muito o véu desta história envolvente, prefiro não revelar a verdadeira identidade de Letícia. Só adianto que tens os longos cabelos ruivos e uma beleza estonteante.

Para fazer esta recensão, preciso de partilhar a minha própria experiência pessoal. Esta não é de todo a primeira vez que leio o livro. Já o havia lido antes. No entanto, este romance pode ser entendido diferentemente, conforme a maturidade de cada um e com isto quero dizer que o percebi muito melhor agora do que na primeira vez que o li. Não sei se por ter mais idade ou se por o ter lido com mais atenção. O que é certo é que existem sempre pormenores que só vamos entendendo com o tempo.

Eu gostei deste título, porque me fez pensar nas razões por que pendeu a minha atenção. E eu, como leitora curiosa e minuciosa, necessitei de algum tempo e de alguns recuos para no fim entender toda a obra e todo o pormenor da narrativa.

Recomendo-o aos bons amantes de literatura, às pessoas com amor pela leitura. É um livro cheio de pormenores, que requer muita paciência e, talvez por ser de Alice Vieira, muito complicado de decifrar.

Mariana Alves (nº 13, 9º C)