quarta-feira, 7 de julho de 2010

«O Meu Livro de Cabeceira»



O Livro que escolhi para “O meu livro de cabeceira” deste período foi «Chocolate à Chuva», um livro escrito por Alice Vieira, com 191 páginas e que foi editado em 1982. É o terceiro livro de uma trilogia começada com «Rosa minha irmã Rosa» e seguida por «Lote 12, 2º Frente». Trata-se de um livro de literatura infanto-juvenil, de fácil leitura e bastante acessível. Está escrito na primeira pessoa, por Mariana, uma adolescente de 13 anos.

Acho que a autora coloca um pouco das suas vivências, como adolescente, neste livro. Ele é uma espécie de diário, em que uma adolescente relata episódios da sua vida, mas sem datas precisas.

O início do livro descreve os preparativos de uma viagem a Espanha, que Mariana tencionava fazer com os seus pais, mas que não chegou a ser concretizada. E como a viagem não é realizada, pede então aos pais para ir com os seus colegas, em visita de estudo, passar um fim-de-semana no campo de campismo Almornos. Neste campo, Mariana e os seus colegas procuram espiões disfarçados. Depois deste fim-de-semana, bem divertido, no regresso a casa depara-se com situações pouco agradáveis: o divórcio dos pais da sua melhor amiga, a Rita; aguenta a sua irmã Rosa com a história do lobo e dos cabritinhos; e o facto de o seu peixe Zarolho ficar doente e ter de ir para quarentena para a loja do Sr. Ling.

Mais tarde o pai da Rita sai de casa, procurando esta consolo em Mariana. Rita aperta bem a mão de Mariana fazendo-a lembrar-se pormenorizadamente do seu 1º dia de aulas.

O pai de Mariana volta a fazer a proposta da viagem a Espanha, mas desta vez é ainda melhor: Mariana viajaria com a sua melhor amiga Rita e juntas percebem que hão-de aguentar tudo. A importância de uma melhor amiga está presente, bem como a amizade, a família e as dificuldades.

Este livro em meu entender tem partes irónicas e de humor. Passo a transcrever um exemplo:

“Se há coisa que não gosto nem um bocadinho é de dar parte fraca. Por isso logo que a mãe contou a opinião do médico, peguei no meu dicionário para ver que coisa seria essa de fungo. Abri-o, página 570, em baixo: «Fungo, s.m. (lat. fungu) planta criptogâmica sem clorofila. Cogumelos. Bolor. Fungão. Fruto angolense semelhante à ameixa. Induna moçambicana. Acto de fungar. Excrescência esponjosa, carnuda, da pele, principalmente em volta de uma chaga.» Como ficasse mais ou menos na mesma, não tive outro remédio e perguntar à minha mãe.”

Tem uma parte de humor e ironia, porque de facto os dicionários dão-nos significados teóricos, que não se aplicam muito bem na prática, e às vezes damos por nós à volta de outra e outra palavra para descobrir o significado da primeira. Mas também, podemos observar que Alice Vieira compreende e conhece bem a adolescência, sabe como os mais novos pensam e escreve como se a estivesse a vivê-la, mas de uma forma mais madura. E se há coisa que uma adolescente não gosta é de dar parte fraca!

Aconselho a leitura deste livro, porque descreve partes boas e partes más da vida de uma adolescente e demonstra algumas formas de ultrapassar os problemas. São episódios reais, e facilmente um adolescente se identifica com eles e quando estamos a ler este livro parece que somos nós que encaramos o papel da Mariana, ou que estamos a ver a história mesmo à nossa frente.

O título do livro é este, pois Mariana gostava de comer chocolate sempre que estava triste ou chovia, como no seu 1º dia de aulas.

Houve uma parte que me fez lembrar o livro «O Principezinho», de que falei na recensão anterior:

“Todas as coisas têm coração por dentro. Isto pensava eu quando era pequena e tocava nos objectos e lhes senti a pulsação. Bastava a ponta dos meus dedos sobre a mesa, e logo o coração da mesa respondia, batendo pausadamente ao ritmo do meu. Quando acordava era como se as coisas, todas as coisas, acordassem comigo. E eu pensava então que o coração descansava enquanto a gente dormia, Se não, para que servia a gente adormecer? Se não, quando descansaria o nosso pobre coração? Eu tinha uma ideia bastante estranha do coração e da vida.”

Faz-me lembrar «O Principezinho» pela simplicidade da imaginação de uma criança, que, depois, quando cresce e se torna adulto deixa de a ter. Mas… será que as coisas não têm mesmo coração? Uma boa pergunta!

Ana Cristina Correia (9º A)