segunda-feira, 14 de junho de 2010

«O Meu Livro de Cabeceira»



O livro que escolhi para este período chama-se «O rapaz perdido» de Dave Pelzer. Tem 197 páginas e foi editado em 1995. O livro faz parte de uma trilogia que nos fala da vida do autor, ou seja, autobiográfica. A história é a continuação do livro que apresentei no 1º período e que se chama «Uma criança chamada coisa», por sua vez dedicado à vida do autor ainda em criança. Esta fala sobre adolescência, a partir do momento em que a escola, ao ter conhecimento do ambiente doméstico e familiar que Dave, alertou as autoridades e o envia para uma instituição de crianças. É precisamente aqui que o livro começa.

Dave, com apenas 11 anos, é enviado para uma instituição de crianças, onde passa a ser adoptado por uma família de acolhimento. A sua primeira casa de acolhimento foi importante para si, pois os seus “irmãos” tratavam-no bem, embora um deles o rebaixasse sempre que podia, lembrando-lhe os maus tratos por que passara. Nesta fase da sua vida, ele sentiu-se uma “pessoa”, pois até então nunca tinha sido tratado como tal.

Foi inscrito na escola da zona e todos gozavam com ele, chamando-lhe “adoptado”. Foi aí que Dave descobriu que havia um enorme preconceito à volta de uma criança adoptada. Os seus “irmãos” avisaram-no, dizendo-lhe que “muitas pessoas não gostam da nossa espécie”.

A adopção era vista como um problema para a sociedade; qualquer criança que o fosse era como se tivesse feito um enorme delito aos pais que não os queriam mais e que as davam para adopção. O ambiente na sua nova casa, porém, alegrava-o, tinha um lar e os pais adoptivos eram como os seus “verdadeiros pais”. Ele falava e desabafava imenso com eles! Até o levaram a um psiquiatra para poder ultrapassar o seu passado, que o invadia muitas vezes, mas não houve resultados visto que rapaz não gostava dele…

Nesse momento da sua vida, ele sentiu necessidade de se integrar num grupo de amigos. Começou a roubar. No livro, confessa coisas como “Eu adorava ser alvo das atenções” ou “A minha única preocupação era ser aceite”. Isto trouxe-lhe problemas porque foi apanhado. Os pais adoptivos chamaram-no à atenção e fizeram-lhe ver que as suas atitudes não eram correctas, que não admitiam “ladrões” em casa e que se aquilo se repetisse ele teria que ir para a casa da juventude.

Dave foi castigado fazendo tarefas caseiras. Na escola, entretanto, para ser aceite continuou a andar com más companhias e foi acusado de incendiar a escola apesar de estar inocente. Foi a gota que fez transbordar o copo e que fez precipitar a sua saída de casa dos pais adoptivos. Enviaram-no para uma casa da juventude, uma prisão para jovens, onde tinha que cumprir inúmeras tarefas. Aplicou-se ao máximo e foi considerado o melhor da sua ala. Quando saiu tiveram que lhe arranjar uma nova casa.

O seu assistente social teve dificuldades em arranjar-lhe sítio para ficar e por isso teve que ficar numa instituição de raparigas. Passado uns dias foi para casa de uma família negra, que tinha alguns filhos adoptados, mas o pai adoptivo foi acusado de abuso sexual perante uma das raparigas da instituição e ele foi levado para a casa de uma senhora que não podia ter filhos. Ela dava-lhe carinho, mas havia imensas discussões entre ela e o marido por causa dele, até que o marido quis o divórcio e Dave teve de voltar a mudar de casa.

Desta vez foi enviado para a casa de um casal que vivia bem e que tinha dois filhos mais novos. Dave fazia de babysitter, o casal discutia todos os dias, a toda a hora, dando toda a liberdade a Dave. Este travou várias amizades na sua nova pequena vila, começou a interessar-se por aviões e a ler sobre eles. Até que o ambiente de discussão o saturou e ele quis ir embora.

Foi levado novamente para a casa de instituição de raparigas, onde aprendeu a cozinhar e começou a trabalhar para ganhar dinheiro. Sabia que aos 18 anos tinha que enfrentar a vida lá fora: “A minha ânsia por trabalho foi alimentada pelo facto de ter 17 anos e menos de um ano para deixar de ser adoptado”, diz-nos ele.

Dave voltou a estudar para obter o diploma de equivalência ao ensino liceal e entrou cheio de orgulho na Força Aérea dos Estados Unidos. Os seus pais adoptivos também estavam felicíssimos: “Depois de beijar a Alice, minha mãe, e de apertara mão ao Harold, meu pai, abri a boca para dizer alguma coisa apropriada. Mas aquele momento não precisava de palavras, pois sabíamos o que estávamos a sentir: o amor de uma família”.

Dave teve uma vida muito difícil, mas com um final feliz. Depois de todos os problema que enfrentou conseguiu sair vitorioso, tanto a nível profissional como pessoal, pois finalmente “ganhou uma família”.

Acho que muitos de nós nos queixamos no dia-a-dia sem pormos os olhos em vidas como a de Dave. Sensibiliza-me o facto de nos queixarmos sem razão. Dave, que tinha razões para o fazer, nunca deixou de lutar para ser a pessoa que é hoje.

É uma história que deve ser um exemplo para todos nós; aconselho a todos a lerem este livro para darmos valor à nossa vida e em vez de nos queixarmos, o que temos de fazer é nunca desistirmos dos nossos problemas.

Sara Machado (nº 16, 9º A)