sexta-feira, 27 de março de 2009

Escola E. B. 2, 3 do Viso participa no projecto «Ouverler – Baú de Histórias»



A nossa Escola participou, com as turmas 5º F e 6º, no projecto «Ouverler – Baú de Histórias», dinamizado pela Biblioteca Almeida Garrett em colaboração com as escolas EB1 e EB2 do Concelho do Porto.

O projecto, recorde-se, tendo por fundo a história «Romance de Lucas e Pandora» de Álvaro Magalhães (uma das «Três Histórias de Amor»), consistiu na continuação das peripécias das duas personagens, de modo faseado e em regime de estafeta (escola a escola), devendo ser escrita colectivamente e com base no texto recebido da escola anterior.

As turmas envolvidas da nossa Escola emprestaram a sua colaboração entre os dias 9 e 13 de Março, sob a orientação das professoras Elisabete Camilo e Ana Paula Alves. Para esta última, o projecto “permitiu aos alunos perceber o interior de uma história, o quão difícil é escrever, ao mesmo tempo que sentiram o prazer de ver fluir o tecido de uma narrativa, não apenas numa visão pessoal, mas num trabalho conjunto e negociado. Foi uma experiência muito rica, pois permitiu partilhar ideias e saborear a riqueza expressiva das palavras. ”

O texto escrito reproduzimo-lo aqui, com os nossos parabéns para as professoras e alunos envolvidos!

À procura de casa para as bandas do Viso

Lucas e Pandora saíram do Palácio de Cristal com o seu retrato pintado.

Pela primeira vez, depois do longo passeio que deram pela cidade, tinham recebido um presente. Tinham agora um objecto a estimar e a guardar.

Cuidadosamente, Pandora pegou no retrato, com as suas delicadas patas.

Era fim-de-tarde. Corria o mês de Outubro. O sol estava a pôr-se por detrás das altas casas. Era um sol magnífico, mas Lucas e Pandora começavam já a sentir os primeiros arrepios.

Nesse momento, Lucas olhou para Pandora e sentiu uma grande ternura.

O cheiro de Pandora entrelaçou-se nas narinas de Lucas que se sentiu responsável por ela estar cheia de frio.

— Minha querida Pandora, tens muito frio…

— Sim, Lucas, este frio é arrepiante, põe-me muito triste. Sinto tanto a falta da minha antiga casa. -suspirou Pandora.

— Mas, que devemos fazer? -perguntou Lucas, preocupado.

— Devemos, talvez, procurar uma casa para nos aconchegar. –respondeu Pandora.

— Nos momentos de aflição é que nos lembramos dos amigos… Eu tenho um amigo de infância que já não vejo há muito tempo. É um amigão! Ele é que nos podia desenrascar.

— E quem é esse teu amigo?

— É o Pitosga. Ele agora anda lá para as bandas do Viso… A última vez que o vi…Mas isso são histórias passadas. O importante agora, é encontrá-lo. Parece que ele se mudou para o quintal dum tal Lopes que tem uma loja de gomas… Guloso, aquele Pitosga.

— Vamos então ter com ele – entusiasmou-se Pandora – sabes, isto de andar por aí, sem poiso certo, agora num sítio, amanhã noutro, também cansa.

O certo é que Pitosga, que se chamava assim porque só tinha um olho, e o outro tinha-o perdido numa célebre briga que ficou conhecida como uma das maiores zaragatas de toda a cidade, deu aos nossos amigos uma ajuda enorme.

Deu-lhes a conhecer o Viso, com os seus bairros e campos encostados à Circunvalação, e apresentou-os a todos os gatos malteses da região, não fossem eles querer atirar-se à linda Pandora.

Ficaram a conhecer os Pingos-Doce, os Mini-Preços, as tascas mas, principalmente, os contentores. Estes eram, sem dúvida, os mais bem fornecidos, os mais cheirosos e os mais gostosos de toda a cidade do Porto.

Pandora, ficou então deslumbrada, por uma lindíssima casa amarela. Era perfeita. Era uma magnífica casa, rodeada de belos jardins e de árvores de fruto.

— Essa casa, calma aí! – exclamou o Pitosga – é melhor pensarem nas traseiras dum bloco…

— Calma aí, porquê? - zangou-se Lucas.

— É que essa casa é a Casa da Quinta do Rio. Não podem pensar em viver lá. Ainda tem lá a gente a morar e…

— E o quê? – perguntaram, ao mesmo tempo, Pandora e Lucas.

— Parece que uma parte dessa casa está meia assombrada.

Nessa noite, Lucas e Pandora, que gostavam de mistérios, não conseguiam adormecer a pensar na casa amarela.

De repente, olharam um para o outro e, pata com pata, lá foram, debaixo da lua, à descoberta da casa.

Saltaram o muro, passaram pelos labirintos do jardim e chegaram a uma dependência da casa. Entraram. Lucas acendeu a lareira com velhos troncos de madeira que estavam lá esquecidos. Depois, aproximou-se de Pandora, e envolveu-a num terno abraço.

Passou a noite. Aos primeiros raios de luz, começaram a ouvir uns rugidos nas suas barrigas.

— Que larica!- exclamou Lucas esfregando as patas na barriga.

— Eu também estou esfomeada. E se fôssemos procurar comida?

Quando estavam a sair de casa sentiram-se ameaçados porque ouviram alguns latidos. Viraram-se e depararam com três terríveis cães que corriam para eles. Lucas agarrou a pata da sua amada e, acelerando o passo, fugiram na direcção do labirinto, que no dia anterior tinham visto no jardim. Pensaram que, dessa maneira, despistavam os seus perseguidores.

No meio do buxo que formava aquela parte do jardim estava uma belíssima flor encarnada. Imediatamente Lucas pensou oferecê-la à sua amada. Tentou arrancá-la. Foi então que um dos arbustos abriu e surgiu uma passagem secreta.

Pandora sentiu medo. Lucas, apercebendo-se, perguntou-lhe:

— Confias em mim?

— Contigo eu vou até ao fim do mundo! – respondeu Pandora, apaixonada.

— Então salllllta!

…Caíram nas águas da Ribeira da Granja.

— Que sorte a nossa! Caímos numa ribeira. De certeza que aqui há algum petisco.

— Não me parece! - disse Pandora, desconsolada.

— Então, pelo menos vamos tentar enganar a fome com algum ratito que haja por aí. – disse Lucas.

Caminharam pelas margens da Ribeira e avistaram uma ratazana velhinha que, assustada, implorou:

— Não me comam! Eu posso contar-vos a história da Ribeira da Granja.

Lucas e Pandora, com pena e curiosidade, aceitaram a proposta. Assim, ficaram a saber que esta ribeira é uma das poucas que restam, à superfície, da cidade do Porto. E que está poluída devido à irresponsabilidade do Homem.

Entretanto, chegaram à Rua das Cegonhas. Que nome bonito! Sentiram um cheiro apetitoso e lembraram-se que ainda tinham fome. De onde viria aquele cheiro?

— Olha aquele fumozinho que vem daquele edifício? O que será? – perguntou Pandora.

— Vamos “cuscar” ! - sugeriu Lucas.

Foi desta forma que chegaram à Escola E.B.2/3 do Viso. Farejaram, até chegarem à cantina, onde a cozinheira preparava um delicioso peixe para o almoço dos alunos. Delicadamente, enrolaram-se nas pernas da cozinheira, que os saciou com alguns pequenos e variados pedaços de peixe.

Ao princípio da tarde, consoladinhos, regressaram a casa.

Mas será que os nossos amigos têm, realmente, uma casa?...


Participaram neste trabalho os seguintes alunos:

Andreia Gomes, nº2; Graciana Dara, nº3 Helena Costa, nº4; Jorge Sá, nº6; Leandro Martins, nº7; Pedro Mendes, nº10; Pedro Alves, nº11; Ricardo Silva, nº 12; Sandro Silva, nº13; Sílvia Monteiro, nº14; Tatiana Maia, nº15 (5º F – Professora Ana Paula Alves)

Ana Silva, nº1; Débora Matos, nº4; Fábio Silva, nº5; Fernando Gomes, nº6; Joana Teixeira, nº7; Micael Santos, nº10; Patrícia Fernandes, nº12; Patrícia Vilhena, nº13; Tiago Alves, nº16; Unal Topaloglu, nº17 e Daniela Matos, n 18 (6º D - Professora Elisabete Camilo).